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Dia da Consciência Negra, devemos comemorar?

NÚCLEO ESTUDOS DA LITERATURA DE MATO GROSSO WLADEMIR DIAS-PINO

Por José Carlos Patrício

Tolerar a existência do outro, e permitir que ele seja diferente ainda é muito pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro. Deveríamos criar uma relação entre as pessoas da qual estivessem excluídas a Tolerância e a intolerância” (FRIEDRICH NIETZSCHE).

Feriado, partindo da variação da palavra férias, pode ser definido como descanso, sossego, repouso. Que seja para alguns, mas para nós, afro-descendentes, seja sinônimo de desassossego, de inquietação. E que esses dois sentimentos nos traga o reconhecimento. Reconhecimento de ser humano com capacidade de percepção de sua existência e com poder para julgar sua realidade.

Ser humano com capacidade de perceber que a história omitiu e omite o negro como atuante no processo de democracia brasileira. A formação do Brasil, através do trabalho escravo do povo negro, teve em sua história, revoltas da massa escrava e da plebe, às vezes organizadas, outras de cunho individual, mas ambas lutando contra um sistema de opressão.

Lutas que visavam à igualdade entre os homens, que democraticamente fossem todos iguais. Poder para julgar e cobrar a triste realidade de não termos nossos heróis negros, com seus nomes dados em homenagens a espaços públicos, seus bustos como monumentos de grandes salas, seus retratos nas casas cidadãs; enfim, páginas nos livros didáticos que fizessem referências a eles. (RODRIGUES, 2003)

Que esse dia de reflexão, dia da consciência negra, ateste para os demais que a era da inocência já passou. Inocente, que como se sabe, era a designação dada ao negro nascido após a lei do Ventre Livre. Inocente em acreditar que uma liberdade outorgada por decreto fosse significar alguma coisa.

Assim, o inocente, acabava ingressando em outro tipo de inocência, o desconhecimento coletivo das reais condições sócio-economico e cultural, que buscavam a legitimação de sua condição de cidadão de uma classe inferior. (SODRÉ, 2003).

Apesar dos descendentes de negros serem uma parte grande da população brasileira, esse feriado de 20 de Novembro vai fazer significado para poucos, para uma minoria. E esse reduzido número de afro-brasileiro que formam essa minoria, é movido pelo impulso da mudança, da transformação, que acaba resultando na formação de “capital social”, que organizada em comportamento e atitudes oriundos de cooperação e sentimento comum, define a maneira como percebemos o mundo e a forma de nela atuar, visando às melhorias necessárias. (SODRÉ, 2003).

Assim, o feriado de 20 de Novembro é pra ser comemorado sim, e que meus filhos e os filhos de seus filhos saibam que uma minoria mudou a sua forma de perceber e atuar na sua realidade. Saibam que meu tataravô, que enfrentou seu opressor, que minha avó, que cantou para seus deuses sem se importar com as chibatas, merecem um 7 de Agosto, um 03 de Março ou qualquer outra data para comemorar.

REFERÊNCIAS

RIOS, Dermival Ribeiros; Novo Minidicionário Escolar Língua Portuguesa. São Paulo: DCL, 2001.
RODRIGUES, João Jorge Santos. O silêncio dos inocentes: 205 anos da Revolução dos alfaiates/ A Revolta dos Búzios 1798-2003. In: Racismo Contemporâneo. Rio de Janeiro: Takano, 2003.
SODRÉ, Muniz: Racismo Contemporâneo. Rio de Janeiro: Takano, 2003.
· graduado em Letras, pela Universidade do Estado de Mato Grosso e integrante do grupo de pesquisa Estudos da literatura de Mato Grosso, “Wlademir Dias-Pino”.

NOTA: Este texto foi escrito especialmente para publicação no Diário de Tangará e Jornal da Cultura

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